terça-feira, 27 de julho de 2010

Tudo passa. Depois de algum tempo tudo acaba passando...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)


Durante muito tempo esperei por você... dias, meses, anos se passaram e eu esperava para que todo encontro fosse eterno, e eu rezava por cada encontro... e tinha medo das pessoas que passavam em minha vida e arrancavam meus pedaços porque eu queria estar inteira quando você me quisesse de volta. E a cada regresso, a cada momento de solidão seu, a cada vazio eu estava ali. E fazia de cada momento uma história, onde só existia um personagem... um personagem que comovia com sorrisos, abraços, surpresas, palavras, doces, vinho chileno, música, histórias, mentiras...

Até que, eu não sei exatamente em que momento, fui invadida por um sentimento diferente. Eu ouvi o poeta cantar: " O teu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer..." e chorei... chorei só em minha companhia e desejei que a minha verdade fosse tão sua quanto eu fui...

Tem coisas que não devem ser teorizadas e que só se aprende vivendo...









" É que eu queria me despedir.

Dizer que foram ininterruptos os dias em que lhe amei a cada respiro, a cada sorriso que eu imaginava desperdiçado quando não sorrindo o que é da sua seiva.

Falar que sonhava e acordava em meio a febres e aleluias a sua ausência.

Ao lado esquerdo da minha cama, tão direita.

Contar que meu cigarro tinha o sabor da sua prosódia.

Sentar de perna cruzada meditando sobre a sua imagem em minha epifania.

É que eu queria me despedir.

Sentir formigar meus ossos até adormecer minha insônia na sua carícia lacônica.

Gritar que meu sorriso só é alegre quando no seu anoitece.

Segredar meu segredo, o único medo que você não poderia temer.

Degredados filhos de Eva.

Minhas estações onde não desço.

Meus vales onde não choro.

Para não contar que meu coração quase explode ingenuidade com a mínima possibilidade de ver o que lhe é tranquilo.

Não ser mesquinha quando tão grande essa querência.

É que eu queria me despedir.

Mas como o tempo não segue paciência, a deus que ofereço minha memória.

Do seu reinado, meu rei, preso aqui.

Eu não queria.

Mas tive que partir. "(Ana Margrit)

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