domingo, 18 de julho de 2010

Mensagem Ambiental Para os Povos e Governos de Todo o Mundo.



Considerado um dos políticos mais importantes da América Latina, Juan Domingo Perón foi eleito democraticamente, por maioria absoluta como Presidente da Argentina, promovendo grandes mudanças no país. Segue abaixo seu discurso profético sobre ecologia divulgado em 1972:


Mensagem Ambiental Para os Povos e Governos de Todo o Mundo.

Por Juan Domingo Perón.



De Madrid, divulgado aos 21 de fevereiro de 1972


Há quase trinta anos, quando ainda não tinha se iniciado o processo de descolonização contemporâneo, anunciamos o terceiro Posicionamento em defesa da soberania e da autodeterminação das pequenas nações, frente aos blocos em que se dividiram os vencedores da Segunda Guerra Mundial. Hoje quando aquelas pequenas nações cresceram em número e constituem o gigantesco e multitudinário Terceiro Mundo um perigo maior que afeta a toda humanidade e coloca em perigo sua própria sobrevivência nos obriga a expor a questão em novos termos, que vão alem do estritamente político, que superam as divisões partidárias ou ideológicas, e entram na esfera das relações da humanidade com a natureza.


Confiamos que chegou a hora em que todos os povos e governos do mundo adquiram consciência da marcha suicida que a humanidade empreendeu através da contaminação do meio ambiente e da biosfera, a dilapidação dos recursos naturais, o crescimento sem freio da população e a super-estimação da tecnologia e a necessidade de investir de imediato na direção desta marcha, através de uma ação unida internacional.

A conscientização deve se originar nos homens de ciência, mas só pode se transformar em ação por meio dos dirigentes políticos. Portanto, abordo o assunto como dirigente político, com a autoridade que me dá ter sido o precursor da atual posição do Terceiro Mundo e com o aval que me dão as últimas pesquisas dos cientistas na matéria.

Os fatos
O ser humano já não pode ser concebido independentemente do meio ambiente que ele mesmo criou. Já é uma poderosa força biológica e se continua destruindo os recursos vitais que lhe brinda a Terra só pode esperar verdadeiras catástrofes sociais para as próximas décadas.
A humanidade está modificando as condições de vida com tal rapidez que não chega a se adaptar às novas condições. Sua ação vai mais rápido que sua captação da realidade, e o homem ainda não chegou a compreender, entre outras coisas, que os recursos vitais para ele e seus descendentes derivam da natureza e não do seu poder mental. Deste modo, diariamente, sua vida se transforma numa interminável cadeia de contradições.
No século passado o homem saqueou continentes inteiros e bastaram duas décadas para converter rios e mares em depósitos de lixo, e o ar das grandes cidades em gás tóxico e espesso. Inventou o automóvel para facilitar seu traslado, mas agora se construiu a civilização do automóvel que se assenta, sobre um acúmulo de problemas de circulação, urbanização, imunidade e contaminação nas cidades e a isso se agrava a situação pelas conseqüências da vida sedentária.


Desperdício massivo
As mal faladas "Sociedades de Consumo" são na realidade sistemas sociais de desperdício massivo, baseados no gasto, pelo qual o gosto produz lucro. Desperdiça-se mediante a produção de bens necessários ou supérfluos e, entre esses, aos que deveriam ser de consumo duradouro, com toda intenção se lhes designa certa vida porque a renovação produz utilidade. Gastam-se milhões em investimentos para mudar o aspecto dos objetos, mas não para substituir os bens danosos à saúde humana, e até se apela a novos procedimentos tóxicos para satisfazer a vaidade humana. Como exemplo basta os carros atuais que deveriam ter sido substituídos por outros com motores elétricos, ou o tóxico chumbo que se agrega à gasolina simplesmente para aumentar a rapidez dos mesmos.
Não resulta menos grave o fato que os sistemas sociais de desperdício dos países tecnologicamente mais avançados funcionem mediante o consumo de ingentes recursos naturais aportados pelo Terceiro Mundo. Deste modo, o problema das relações dentro da humanidade é paradoxalmente duplo: algumas classes sociais - a dos países de baixa tecnologia em particular - sofrem os efeitos da fome, do analfabetismo e das doenças, mas ao mesmo tempo as classes sociais e os países que assentam seu excesso de consumo no sofrimento dos primeiros, tampouco estão racionalmente alimentados nem gozam de uma autêntica cultura ou de uma vida espiritual ou fisicamente saudável. Debatem-se em meio à ansiedade e ao tédio e aos vícios que produzem o ócio mal utilizado.


A ilusão da tecnologia
O pior é que, devido à existência de poderosos interesses criados pela falsa crença generalizada de que os recursos naturais vitais para o homem são inesgotáveis, este estado de coisas tende a se agravar, enquanto um fantasma - o homem- percorre o mundo devorando 55 milhões de vidas humildes a cada 20 meses, afetando até países que ontem foram celeiros do mundo e ameaçando expandir-se de modo fulminante nas próximas décadas. Nos centros de mais alta tecnologia se anuncia entre outras maravilhas, que em breve a roupa se cortará com raios lazer e que as donas de casa farão compras por televisão e as pagarão mediante sistemas eletrônicos. A separação dentro da humanidade está se agravando de modo tão visível que parece que estava constituída por mais de uma espécie.
O ser humano cego pela ilusão da tecnologia, esqueceu as verdades que estão na base de sua existência. E dessa forma, enquanto chega à lua, graças à cibernética, à nova metalurgia, combustíveis poderosos, a eletrônica e uma série de conhecimentos teóricos fabulosos, mata o oxigênio que respira, a água que bebe, e o solo que lhe dá de comer e eleva a temperatura permanente do meio ambiente sem medir as conseqüências biológicas. E ainda no auge da sua insensatez, mata o mar que podia lhe servir de última base de sustentação.


Depois da terra, o mar...
No curso do último século, o ser humano exterminou aproximadamente 200 espécies animais terrestres. Agora começou a liquidar as espécies marinhas. Além dos efeitos da pesca excessiva, amplas regiões dos oceanos, especialmente costeiras, já se converteram em cemitérios de peixes e crustáceos, tanto pelos desperdícios jogados quanto pelo petróleo involuntariamente derramado. Apenas o petróleo liberado pelos navios cisternas afundados matou na última década aproximadamente 600.000 milhões de peixes. Porém, continuamos jogando ao mar mais resíduos do que nunca, perfuramos milhares de poços petrolíferos no mar ou na costa e ampliamos ao infinito a tonelagem dos petróleos sem tomar medidas de proteção da fauna e flora marinhas.


...E a água potável
A crescente toxicidade do ar das grandes cidades, é bem conhecida, embora muito pouco tenha sido feito para diminuí-la. No entanto, ainda existe um conhecimento mundialmente difundido com respeito ao problema exposto pelo esbanjamento da água doce, tanto para o consumo humano quanto para a agricultura. A liquidação de águas profundas converteu em desertos extensas áreas outrora férteis do globo, e os rios passaram a ser desaguamentos de esgoto em vez de serem fontes de água potável ou vias de comunicação. Ao mesmo tempo, a erosão provocada pelo cultivo irracional ou pela supressão da vegetação natural se converteu em um problema mundial, e se pretende substituir com produtos químicos o ciclo biológico do solo, um dos mais complexos da natureza. Como se não bastasse, muitas fontes naturais foram contaminadas; as reservas quando ficariam como último recurso a dessalinização do mar ficamos sabendo que um empreendimento desta envergadura, de dimensão universal, exigiria uma infra-estrutura que a humanidade não está em condições de financiar e preparar neste momento.

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