terça-feira, 24 de agosto de 2010

Se estivesse vivo Paulo Leminski completaria 66 anos hoje ...



Se estivesse vivo, hoje seria a comemoração dos 66 anos do poeta, romancista e tradutor paranaense Paulo Leminski. Para homenagear o escritor, um grupo de poetas de Curitiba está preparando uma ação, ainda sem data marcada, que deve acontecer até o final do mês.
A ideia é reunir 11 poetas que terão, cada um, 6 minutos para declamar poesias nas ruas da cidade, somando justamente a idade que o poeta completaria. Thadeu Wojciechowski, Edson de Vulcanis e Ivan Justen Santana são alguns dos artistas confirmados para a intervenção.
O poeta Thadeu Wojciechowski era amigo de Leminski, com quem cultivou também algumas parcerias. "O que eu mais gostava de fazer com ele era conversar. Sempre era uma conversa atômica, espalhando radiação para todos os lados". Thadeu conta que nessas ocasiões é que surgiam inspirações para poesias. "A poesia, acima de tudo é conversa entre pessoas inteligentes e sensíveis".
A vasta e influente obra do escritor até hoje serve de inspiração para novas criações, como o filme "Ex Isto", exibido pela primeira vez no encerramento do último Festival de Cinema de Gramado. O filme foi construído a partir do livro "Catatau", do poeta paranaense Paulo Leminski, e de trechos da obra de Decartes.
No teatro, a Companhia Brasileira de Teatro estreou a peça "Vida" no ano passado. Com direção de Márcio Abreu, o espetáculo trouxe para a cena o resultado de um longo período de pesquisas sobre a obra do poeta curitibano.

Trajetória
Paulo Leminski nasceu no dia 24 de agosto de 1944 em Curitiba. Em 1964, já em São Paulo, publica poemas na revista "Invenção", porta voz da poesia concreta paulista. Casa-se, em 1968, com a poeta Alice Ruiz, com quem teve dois filhos: Miguel Ângelo, falecido aos 10 anos; Áurea Alice e Estrela.
De 1970 a 1989, em Curitiba, trabalha como redator de publicidade. Compositor, tem suas canções gravadas por Caetano Veloso e pelo conjunto "A Cor do Som". Publica, em 1975, o romance experimental "Catatau".
Traduziu, nesse período, obras de James Joyce, John Lenom, Samuel Becktett, Alfred Jarry, entre outros, colaborando, também, com o suplemento "Folhetim" do jornal "Folha de São Paulo" e com a revista "Veja". Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô.
Sua obra tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos. Seu livro "Metamorfose" foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Em 2001, um de seus poemas ("Sintonia para pressa e presságio") foi selecionado por Ítalo Moriconi e incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro. No dia 7 de junho de 1989 o poeta falece em sua cidade natal.

(fonte:www.paranaonline.com.br)








HAI KAI (Paulo Leminski)

O ideograma de kawa, "rio", em japonês, pictograma de um fluxo de água corrente, sempre me pareceu representar (na vertical) o esquema do haikai, o sangue dos três versos escorrendo na parede da página..

HAI

Eis que nasce completo
e, ao morrer, morre germe,
o desejo, analfabeto,
de saber como reger-me,
ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
eis o que nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.

KAI

Mínimo templo
para um deus pequeno,
aqui vos guarda,
em vez da dor que peno,
meu extremo anjo de vanguarda.

De que máscara
se gaba sua lástima,
de que vaga
se vangloria sua história,
saiba quem saiba.

A mim me basta
a sombra que se deixa,
o corpo que se afasta.

[do livro Distraídos Venceremos]

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